O SENHOR DOS ANÉIS E O DIVINO MASCULINO
por Belba Pai D'Ouro
Muitas pessoas criticam O Senhor dos Anéis por ser uma história basicamente masculina, onde a maioria dos personagens é homem e às mulheres cabe um papel secundário. Essas pessoas podem ter uma certa razão, pois as únicas personagens femininas que têm algum destaque são Galadriel e Éowyn. Arwen tem uma aparição tão sutil que só os que lerem história com atenção perceberão sua importância.
Mas seria realmente um grande problema O Senhor dos Anéis contar a história de homens?
Os personagens masculinos que aparecem na obra resgatam o divino masculino. Eles nos levam a imaginar uma época e um lugar onde os homens não estavam presos às regras estúpidas da sociedade moderna.
Quem não sente uma certa inveja do nobre e belo Boromir, tão preocupado em salvar o SEU povo. Quando esta noção de “meu povo” se perdeu entre nós? Qual o homem moderno brasileiro que tem realmente a verdadeira noção de “meu povo”? Quem estaria disposto a arriscar a sua própria vida, numa jornada suicida para resgatar o esplendor de seu povo? A tentação que ele tinha era de pegar o Anel para salvar a sua gente, para fazer a sua cidade viver ricamente e em paz novamente, como em tempos de outrora. E o que o impediu o tempo todo de simplesmente arrancar o objeto de Frodo? Ele sabia dos riscos de tê-lo nas mãos, mas o que realmente o brecou foi a Honra, a sua palavra dada no Conselho de Elrond. Honra? Palavra? O que isso significa para os homens modernos? E quando ele finalmente sucumbiu por um fatal instante ao terrível poder do Um, coisa que não é de se admirar, visto que a própria primogênita Galadriel quase o fez também, e às portas da morte, arrependido, qual foi a sua preocupação? Suas últimas palavras foram: “Adeus, Aragorn! Vá para Minas Tirith e salve meu povo. Eu falhei”.
por Belba Pai D'Ouro
Muitas pessoas criticam O Senhor dos Anéis por ser uma história basicamente masculina, onde a maioria dos personagens é homem e às mulheres cabe um papel secundário. Essas pessoas podem ter uma certa razão, pois as únicas personagens femininas que têm algum destaque são Galadriel e Éowyn. Arwen tem uma aparição tão sutil que só os que lerem história com atenção perceberão sua importância.
Mas seria realmente um grande problema O Senhor dos Anéis contar a história de homens?
Os personagens masculinos que aparecem na obra resgatam o divino masculino. Eles nos levam a imaginar uma época e um lugar onde os homens não estavam presos às regras estúpidas da sociedade moderna.
Quem não sente uma certa inveja do nobre e belo Boromir, tão preocupado em salvar o SEU povo. Quando esta noção de “meu povo” se perdeu entre nós? Qual o homem moderno brasileiro que tem realmente a verdadeira noção de “meu povo”? Quem estaria disposto a arriscar a sua própria vida, numa jornada suicida para resgatar o esplendor de seu povo? A tentação que ele tinha era de pegar o Anel para salvar a sua gente, para fazer a sua cidade viver ricamente e em paz novamente, como em tempos de outrora. E o que o impediu o tempo todo de simplesmente arrancar o objeto de Frodo? Ele sabia dos riscos de tê-lo nas mãos, mas o que realmente o brecou foi a Honra, a sua palavra dada no Conselho de Elrond. Honra? Palavra? O que isso significa para os homens modernos? E quando ele finalmente sucumbiu por um fatal instante ao terrível poder do Um, coisa que não é de se admirar, visto que a própria primogênita Galadriel quase o fez também, e às portas da morte, arrependido, qual foi a sua preocupação? Suas últimas palavras foram: “Adeus, Aragorn! Vá para Minas Tirith e salve meu povo. Eu falhei”.
E Aragorn? O arquétipo do Rei esteve sempre presente em nossas quimeras, mas raramente na realidade. O Rei que se sacrifica pelo seu reino já foi visto na lenda do Rei Pescador, em Arthur, etc.
Qual a última vez que vimos um governante sábio, justo, que segue a frente da batalha, sendo a sua última preocupação a sua própria segurança? Que empunha a espada com ardor, mas deixa as lágrimas rolarem soltas ao ver um amigo ferido?
“Sou Aragorn, filho de Arathorn, e se em nome da vida ou da morte puder salvá-los, assim o farei”. Com essas palavras, Elessar deixa claro como era a sua personalidade.
Boromir e Aragorn têm muito em comum, guerreiros, homens honrados, justos, fiéis. Podemos imaginar um lugar para esses dois na sociedade moderna?
Legolas, um elfo macho. Um macho que não tinha vergonha de se perder em poesias e canções, de conversar com as árvores e ouvir as histórias que as pedras tinham para contar. Um macho que colocava amor em tudo que fazia. Que se encantava com as estrelas. Muitas pessoas que conheço e que assistiram ao filme vieram e falar que aquela loirinha lá... hum... não sei não! Por que essas características ficaram restritas apenas aos gays? Quando foi que o Legolas contido em cada homem moderno morreu? E se não morreu, por que tem que ficar tão escondido debaixo de uma carapaça, só podendo se manifestar dentro do quarto solitário, quando timidamente rabisca alguns versos que serão rasgados logo em seguida?
Gandalf, o velho: respeitado e amado pelos amigos, temido e odiado pelos inimigos devido a sua grande sabedoria. O respeito aos velhos se perde nas areias do tempo (eles, agora, na maioria das vezes, são ignorados e considerados inúteis). Um Maia, que escolheu a forma de um corpo mais fraco, para desta forma, ajudar a Terra Média.
Frodo, que abandonou a sua vida de prazeres simples, para dar a vida pelo seu povo. Ele sempre soube que sua jornada não teria volta. Sabia que abria mão daquilo que mais amava, o Condado, para que o mesmo continuasse a florir. Ele é a ausência do egoísmo.
E Sam, o amigo leal? Como gostaríamos de ter um amigo assim! Aquele que nos apoia no pior momento de nossas vidas... Forte, corajoso, sábio e que nem por isso nos deixa de acompanhar numa caneca de cerveja. Sam é aquele que para os mais desatentos pode parecer um mero serviçal, mas quando necessário assume o governo de todo o Condado e o faz com sabedoria. É aquele que ama um trabalho inocente como a jardinagem e faz de um simples jardim, um pedaço de Lothlórien. Mas é aquele que não hesita em pegar nas armas para defender aqueles que lhes são caros.
Gimli é a força bruta usada com sabedoria e delicadeza. Ele não se sente afetado pelo Anel. Aquele tipo de poder não o atrai. Ele tem uma missão e vai cumpri-la, custe o que custar, pois é o que acredita ser certo. Gimli não se cansa e diz o que pensa, mas permanece firme em seus ideais. Ele é forte, ele é extremamente forte e sabe disso. Sabe que a sua força pode derrotar o que quer que seja prejudicial ao mundo e não tem medo, mas não é imprudente. Ele é um anão, o povo que está mais em contato com o elemento terra e se sente bem em cavernas, que é o útero onde foi gerado.
Merry e Pippin são aqueles que amam a vida. Cada momento dela é um ritual de prazer. Amam a boa mesa, o conforto de uma casa quentinha e o sabor de uma cerveja. Gostam de conversar, de escutar boas histórias e de dar risadas, mas abandonam tudo isso por um grande ideal ou apenas por uma boa aventura. Na atual sociedade, eles seriam tão criticados! Seriam chamados de irresponsáveis, pois nos sentimos quase culpados quando estamos curtindo um dia de preguiça, sem nada para fazer a não ser observar as folhas caindo.
O Senhor dos Anéis tenta resgatar um mundo onde os homens não estariam presos a uma teia cheia de nós. Um mundo muito além do patriarcado, onde pessoas respeitam as árvores, a poesia, a batalha justa.
Sim, ainda existe um lugar neste mundo para Aragorn e Boromir. Eles ainda existem por trás de um terno ou de uma bermuda grunge. Estão agrilhoados por milhares de anos de cultura machista e supressora do divino feminino. O divino masculino está aí, pronto para se unir ao divino feminino e nunca dominá-lo, mas trabalhar junto. Um não existe sem o outro, mas com certeza o masculino é o que está mais moribundo, pois é o mais frágil. O divino feminino foi surrado, foi desconsiderado, foi suprimido, foi ignorado e humilhado pelo patriarcado descontrolado, mas não perdeu a sua alma, enquanto que o divino masculino quase a perdeu.
Como dizia um amigo*, neste momento de nossa história, nunca o Anel esteve tão perto de Sauron e nunca esteve tão perto de ser destruído. Estaremos caminhando para uma nova era, onde os novos anéis de aço, concreto, desemprego, violência, fome serão destruídos? Eles estão nas nossas mãos e só nós somos responsáveis pelos seus destinos. Qual o caminho que tomaremos?
Algumas pessoas afirmam que a obra de Tolkien é pura ficção, outros falam que o livro é o Um Anel, mas eu acho o livro pode também ser o espelho de Galadriel, que “revela coisas passadas, coisas que estão acontecendo, e as que ainda podem acontecer“.
Enfim, O Senhor dos Anéis é uma história masculina, mas é uma boa história.
* Frase dita por Nuvem Que Passa, que já partiu para os salões de Mandos
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A Belba, minha irmãzinha, é fã de Tolkien além de Bióloga. Presidente do grupo tolkiendili de Ribeirão Preto "Torre Branca".
Nossa que texto bonito. Parabéns.
ResponderExcluirÉ verdade, os homens modernos se esqueceram de algumas coisas importantes, se esqueceram que quem já foram no passado, mas Tolkien veio para lembrar-lhes, entre outras coisas.
Não sabia que habia um grupo tolkeniano em Ribeirão preto, sou de Sertãozinho e gotaria muito de conhecer tal grupo, posso?
Me mandem um e-mail fazendo um favor: psicogonca@yahoo.com.br
Muito obrigado,
Gerbur.
Olá! Saudações tolkienianas
ResponderExcluirSim! Temos um grupo que anda muito entesco pro meu gosto. Mas já foi bem ativo e agora vou tentar chacoalhar o povo e marcarmos alguma atividade, mesmo que seja só pra bater papo.
O grupo se reúne virtualmente numa lista do Yahoo.
Anote aí e apareça:
http://br.groups.yahoo.com/group/torrebranca/
De qualquer forma, vou lhe enviar um email.