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Tanto para o menor como para o maior, há alguma coisa que só se pode realizar uma vez; e nesse feito o coração repousará (Fëanor, no Circulo de Julgamento, O Silmarillion)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ensaio: Ithilien - Parte IV


ITHILIEN – A LUA SOBRE GONDOR
Ensaio de Michael Martinez, traduzido por Edhelcalen (*)

Parte IV



Mas as invasões dos Easterlings provavelmente iniciam um período de reversão da sorte de Ithilien. Isto é, com uma nova ameaça que vinha pelas montanhas, o norte de Ithilien (ao menos) não atrairia muitos novos colonos. A região era de importância estratégica para Gondor porque os fortes ao norte de Mordor seriam um risco se fossem separados de Ithilien. Eles ainda poderiam ser reabastecidos através da própria Mordor, mas tal jornada pôde se provar longa e perigosa.
Taroscar (Rómendacil I, 492-541) parece ter lutado uma guerra largamente defensiva contra
as várias tribos de Easterlings que atacavam Gondor. Contudo, seu filho, Turambar (541-
667), esteve na ofensiva e firmou um grande acordo de territórios no leste. Ithilien ficou
segura contra invasões e, provavelmente, serviu como uma área de teste para as
conquistas de Turambar.
As campanhas orientais de Turambar não parecem ter resultado em alguma migração ao
leste. Parece que ele foi o rei que fez o primeiro contato com os Homens do Norte e os
convidou para se estabelecerem nas terras entre Rhovanion e Mordor.
Ithilien parece ter sido esquecida daí para frente. Os reis de Gondor voltaram sua atenção
para outra parte, e quando Tarannon Falastur começou a conquistar as terras ao oeste e ao
norte de Gondor, é muito possível que a colonização tenha seguido seus exércitos.


Ithilien tornou-se importante outra vez quando Eldacar retornou do exílio em 1447 para
confrontar Castamir, o Usurpador, trazendo um exército de Homens do Norte para Gondor. Os
povos de Calenardhon, Anórien e Ithilien se juntaram a Eldacar e o ajudaram a recuperar o
trono. Embora os Homens do Norte já devessem ter habitado Ithilien, esse povo possivelmente já estava farto e cansado de Castamir, que era mais popular com os povos do litoral. Ele deu pouca atenção às áreas do interior, até mesmo decidindo mudar seu trono para Pelargir de forma a poder ficar próximo da frota.
O reinado de Castamir foi somente o começo para o declínio de Ithilien. A batalha nas
Travessias do Erui, na qual Eldacar derrotou Castamir, custou muitas vidas. Embora Ithilien
pudesse ter recuperado suas riquezas e influências anteriores, nas gerações seguintes
Ithilien do Sul e Horondor foram ameaçadas por Umbar, para onde os seguidores de
Castamir fugiram após sua morte. E, em 1636, a Grande Peste devastadora que veio do leste
enfraqueceu o reino inteiro. Muitas pessoas fugiram para Ithilien para escapar da praga e
se recusaram a retornar para Osgiliath posteriormente. Sua intransigência, somada ao
abandono das fortalezas em Mordor, assegurou que Ithilien sofresse mais um declínio. Minas Ithil e talvez Emyn Arnen teriam continuado importantes para Ithilien, mas haveria menos demanda para seus bens e serviços.
Enquanto criaturas malignas começavam a repovoar Mordor, Ithilien se tornava mais que
um território de fronteira. As guerras com os Carroceiros, nos anos 1800, empurraram a
fronteira de Gondor de volta para Ithilien do Norte, e Ithilien foi brevemente invadida em
1944. No curso de aproximadamente 500 anos, Ithilien foi transformada de um centro principal
de Gondor para sua última linha de defesa. A perda de Minas Ithil para o Senhor dos Nazgûl,
em 2043, serviu apenas para sacramentar o novo status de Ithilien como região de fronteira.
Os quatro séculos seguintes não viram qualquer mudança no status quo. Ithilien
provavelmente floresceu de certo modo. Isto é, não necessariamente atraiu uma colonização,
mas seu povo não era molestado. Apenas quando a Paz Vigilante acabou e Sauron retornou para Dol Guldur, as coisas começaram a ficar perigosas novamente. Os Uruks emergiram de Mordor e começaram a atacar Ithilien. O povo começou a sair em multidões e a vida deve ter se tornado muito dura para aqueles que escolheram ficar. É difícil imaginar os nobres de Gondor dançando
nos salões e celebrando antigas vitórias lá.
Provavelmente os homens viajavam para o exterior em grupos armados e as famílias juntas planejavam moradias fortificadas. As pessoas devem ter preferido ficar puramente pelo amor à terra, e talvez por orgulho. Elas não seriam arrancadas de seus lares por Orcs.


No século 29, Túrin, Regente Governante de Gondor, deu ao povo de Ithilien algum relevo.
Ele fortificou Cair Andros e começou a estabelecer refúgios secretos através da região. Os Rangers de Ithilien provavelmenteforam formados nesse período. Mas Gondor foi atacada no sul, e Túrin foi forçado a chamar Rohan para auxílio. Embora Túrin vencesse a guerra, seu poder parece ter diminuído. Em 2901, quase toda a população de Ithilien fugiu através do Anduin, enquanto os Uruks aumentavam seus ataques. Em 2951, Sauron retornou a Mordor e abertamente declarou-se seu senhor. Em 2954, Orodruin entrou em erupção e o que restava do povo de Ithilien percebeu que a guerra não demoraria e fugiu através do rio, e Ithilien foi deixada para os Orcs e Rangers lutarem entre si.
Gondor nunca abandonou o controle sobre Ithilien do modo que abandonou seus territórios
orientais. Denethor II manteve os Rangers e firmou a presença de Gondor ali. Mas a região
se tornou mais um símbolo de resistência contra Sauron que qualquer outra coisa. Não mais representava uma fronteira de oportunidades ou o poder dos Reis de Gondor.


Uma terra, que uma vez teria sido cheia de cidades, fazendas e vilas, foi reduzida a uma
região vazia e disputada. Gondor a reivindicava, mas não conseguia impedir Sauron de utilizá-la como estrada para o Morannon.
Ironicamente as fortalezas, que uma vez Ithilien usou contra o retorno de Sauron, foram usadas
para os propósitos dele. Mas embora Sauron fosse capaz de explorar Ithilien estrategicamente, ele nunca foi capaz de se beneficiar dela economicamente. A economia da Terra Média era simples e realmente não tinha muita relação que fazer com as grandes estratégias. Ninguém se apoderou de um veio de Mithril de Khazad-dum ou das gemas brutas de Erebor. Mas um povo tinha que se sustentar ou ser sustentado. Sauron foi incapaz de colonizar Ithilien ou usá-la como base de operações. Quando a Guerra do Anel começou, a invasão de Mordor foi lançada a
partir de Minas Morgul (formalmente Minas Ithil). Tudo que o exército precisou teve que ser
trazido com ele, mesmo os barcos e as jangadas que tiveram que ser preparadas por muito tempo em segredo.
Assim como os rabiscos dos Orcs na cabeça da estátua derrubada que Frodo e Sam
observaram, as depredações dos Orcs em Ithilien eram na maioria superficiais. Os Rangers de Ithilien e as forças de defesa nativas que os habitantes anteriores haviam mantido tornaram impossível para os Orcs deixarem uma marca durável na região. Arnor perdeu Rhudaur no norte, mas o povo de Aranarth recuperou o Ângulo. Similarmente, Gondor nunca abandonou completamente Ithilien. Ithilien é, de várias maneiras, um testemunho da força de Gondor mesmo nos dias de seu declínio. Mas também é uma indicação do caráter do povo que diz: “Este é nosso lar. Nós não o abandonaremos, a menos que abandonemos nossas vidas”.


Gondor nunca realmente perdeu Ithilien porque ela vivia no coração dos Dúnedain. Denethor
sabiamente recrutou os Rangers entre homens cujos ancestrais tinham vivido em Ithilien. Eles
investiram emocionalmente na terra, e através deles Gondor manteve sua devoção. Isildur
teria se orgulhado.


(*) Tradução originariamente publica na O Condado Newsletter, do grupo de discussão do Yahoo “O Condado”.
Obs.: Não tenho o crédito da gravura/foto

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