Quem gosta de literatura fantástica, como eu e muuuitos nerds pelo mundo afora, não pode deixar de ler o blog de Roberto Causo, no Terra Magazine.
Os livros da FantastiCon 2010
Roberto de Sousa Causo De São Paulo
A quarta edição do maior evento de ficção científica e fantasia do Brasil, a FantastiCon 2010 - aconteceu nos dias 27, 28 e 29 de agosto. O evento organizado por Silvio Alexandre, e realizado nas dependências da Biblioteca Municipal Viriato Corrêa, concentrou um número substancial dos lançamentos da área em 2010.
Alexandre arranjou a distribuição de kits aos participantes - kits que têm sido uma das características do encontro. Neste ano, livros diversos doados por editoras grandes, médias e pequenas, juntamente com marcadores de página e exemplares de Universo Fantástico em Revista N.º 0, editada por Silvio Alexandre para a Giz Editorial, com ensaios assinados por nomes como Alfredo Luiz Suppia, Braulio Tavares, Bruno Accioly, Fábio Fernandes, Gilberto Schoereder, Lúcio Manfredi, Martha Argel & Humberto Moura Neto, Nelson de Oliveira, Octávio Aragão e outros. A publicação foi criada para reforçar a pesquisa e a reflexão sobre a ficção especulativa, e, apesar de problemas de revisão, o número zero mostra o potencial dessa idéia, que, até onde eu saiba, ainda não resultou em um número 1. Esperamos que ele venha agora em 2011.
Entre os livros constantes do kit, ou entregues a mim por Silvio Alexandre, estava a novela juvenil de Carlos Orsi, Nômade (Ciranda das Letras), uma novela de ficção científica com ilustrações muito competentes de Renato Alarcão. Orsi, autor de dois livros de contos, também publicou em 2010 outra novela de FC,Guerra Justa (Editora Draco), resenhada aqui em 9 de outubro de 2010.
O ativo J. Modesto comparece com Trevas (Giz Editorial), um romance de vampiros que é, na verdade, um título de 2006, em reedição com uma capa de clima interessante, assinada por Amauri Modesto de Oliveira. O comentário da quarta capa informa que, para enfrentar um demônio de poderes inauditos, a Igreja se alia a um vampiro. Modesto já havia produzido premissa intrigante com o seu Anhangá: A Fúria do Demônio, ambientado no Brasil Colônia.
Histórias de Arrepiar (Giz), de Regina Drummond, reúne dez contos curtos dessa autora que também escreveu O Destino de uma Jovem Maga e Receitas Práticas de Magia. Essa coletânea é de 2009.
O Dragão de sua Magestade (His Majesty¿s Dragon), da americana Naomi Novik, é o primeiro de uma série de fantasia que faz muito sucesso nos Estados Unidos, mas dirigida ao público adulto. Aqui, saiu pelo selo juvenil da Record, Galera, e traz uma capa sem personalidade, dirigida a esse público. A série Temeraire, de Novik, postula um conflito entre Inglaterra e França, como o das Guerras Napoleônicas no início do século 19, mas em uma realidade alternativo que aceita a existência de dragões, utilizados como recurso militar.
Neon Azul (Draco), me foi presenteado pelo autor, Eric Novello. É chamado pela editora de "romance fix-up" - composto de contos interligados de modo a lhe dar um ar de romance. A diagramação é muito moderna e a capa de Erick Sama chama a atenção. O texto de Novello, um dos organizadores da antologia Meu Amor É um Vampiro (Draco, 2010), flerta com diversas formas de literatura fantástica.
É claro que eu não fui à FantastiCon só para ganhar presentes. Ao longo de várias semanas, economizei para adquirir alguns livros cujos lançamentos eu havia perdido ao longo do ano, ou que seriam lançados lá mesmo no evento.
A antologia de Gerson Lodi-Ribeiro & Luís Filipe Silva, Vaporpunk: Relatos Steampunk Publicados sob as Ordens de Sua Majestade (Draco), foi certamente um dos lançamentos de ficção científica mais aguardados e comentados do ano. O steampunk é um subgênero da FC e da fantasia que vem crescendo muito no Brasil, e seguindo a pioneira antologia de 2009, Steampunk: Histórias de um Passado Extraordinário (Tarja Editorial), organizada por Gianpaolo Celli, esta parece ser mais substancial e enxergar o subgênero como um subconjunto da história alternativa. Lodi-Ribeiro, é claro, tem sido o maior promotor da história alternativa no Brasil. Esta é a terceira antologia com seu nome na capa, e a segunda de Silva. Traz histórias de Lodi-Ribeiro, de Novello, Octávio Aragão, Yves Robert (um português), Flávio Medeiros, Jr., Jorge Candeiras (outro português), Orsi e João Ventura (também de Portugal). O livro é bonito, bojudo e tem belo tratamento editorial.
A Tarja lançou lá a antologia Cyberpunk: Histórias de um Futuro Extraordinário, irmã da primeira, mas com menos cuidado visual e de organização anônima. Traz histórias de Ronaldo Luiz Souza, Luiz Bras, Gianpaolo Celli, Débora Vieira Ramires, Ramon Giraldi, Ubiratan Peleteiro, Maria Helena Bandeira, Pedro Vieira e Richard Diegues.
Diegues tem investido no subgênero cyberpunk há algum tempo, e na FantastiCon eu aproveitei para pegar seu autógrafo no seu romance Cyber-Brasiliana (Tarja), também lançado ano passado. Quando Bruce Sterling esteve aqui no fim do ano, mostrei o livro a ele, que ficou muito curioso. A capa é de Phil & Ico.
Outro romance cujo lançamento eu havia perdido em 2010 foi O Centésimo de Roma (Rocco), de Max Mallmann, que eu também encontrei na FantastiCon, aproveitando para pegar seu autógrafo. É um romance histórico ambientado na Roma Antiga, com algum elemento fantástico. Ainda não li, mas me parece que o caminho de Mallmann - autor de quatro outros livros - é se afastar da ficção especulativa, e este romance bojudo parece ser mais um passo nessa direção.
Com tantas antologias circulando, foi uma agradável surpresa encontrar na FantastiCon Proibido Ler de Gravata (Anthology), organizada por André Carneiro - a primeira antologia com a byline dele na capa - cuja ilustração é assinada por Aline Marion & Clair Nery Cardoso. Há ilustrações internas de Antonio Eder e os contos são resultantes da oficina literária que Carneiro mantém em Curitiba há vários anos. As histórias são de Mustafá Ali Kanso (um novato muito ativo), Carlos Alberto Machado (também pesquisador), Clair Nery Cardoso, Bertoldo Schneider Jr., Silvio André Xavier e Alda Slonik. A maioria aparece com mais de um conto, e o livro traz um inédito de Carneiro, que é o decano da FC brasileira: "Calibre 38 Cano Curto."
Também adquiri o primeiro livro do ficcionista e crítico Antonio Luiz M. C. Costa,Elipse ao Pôr do Sol e Outros Contos Fantásticos (Draco), com seis histórias e uma capa interessante mas não creditada.
Foi uma boa compra, certamente, mas as economias não deram conta de tudo o que havia de disponível à venda na FantastiCon ou que foi lançado lá. Sinal do imenso dinamismo do mercado atual, e da energia de uma maioria de autores jovens e iniciantes.
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